No ambiente corporativo, especialmente em grandes empresas, o pragmatismo exige foco no que é executável e está sob nosso controle. A tendência comum de se obcecar com os resultados frequentemente desvia a atenção do que pode ser efetivamente gerenciado, levando a uma fixação insalubre em metas que são influenciadas por fatores externos além de nosso alcance.
Esse foco excessivo nos resultados externos cria uma "ilusão estética", onde as pessoas se enganam ao acreditar que têm mais controle do que realmente possuem. Essa ilusão alimenta um ciclo perigoso, em que o medo do fracasso e a obsessão pelo controle distorcem a percepção e a tomada de decisões.
A famosa e equivocada citação atribuída a Maquiavel, “os fins justificam os meios”, reflete como as pessoas frequentemente interpretam o mundo através dessa lente estética. Tal perspectiva distorce a sabedoria pragmática que Maquiavel de fato defendia. Seus ensinamentos enfatizavam a importância de compreender as dinâmicas de poder e o comportamento humano de maneira prática e realista. A má interpretação de seu trabalho provavelmente decorre de uma visão estética que prioriza aparências e resultados sobre as complexidades da realidade, reduzindo suas ideias a uma justificativa para qualquer ação que leve ao resultado desejado, o que está longe de seu verdadeiro pensamento.
Em O Príncipe, Maquiavel aconselhou lidar com inimigos não por meio de agressão aberta, mas com visão estratégica e uma compreensão clara da natureza humana. Esse conselho se alinha com os modernos insights da neurociência sobre como nossos cérebros processam ameaças e problemas. Quando nos focamos excessivamente em um inimigo — ou qualquer problema — nosso cérebro reforça esse foco, dando-lhe um lugar privilegiado em nossa memória. Isso se deve em parte à função da amígdala, que processa respostas emocionais, e do hipocampo, crucial para a formação da memória.
A amígdala, frequentemente associada à resposta de luta ou fuga, reage fortemente a ameaças percebidas. Quando nos obcecamos por um inimigo, isso mantém a ameaça no centro de nossa consciência, amplificando o estresse e a ansiedade. O hipocampo, responsável por armazenar memórias, reforça essas associações negativas, tornando-as mais persistentes e difíceis de superar. Esse processo neurológico destaca a sabedoria do conselho de Maquiavel: ao gerenciar o foco e as reações, um líder evita ser consumido pelas ações do inimigo e, em vez disso, controla a narrativa.
A maturidade desempenha um papel crucial na gestão desses processos mentais. O desenvolvimento cerebral, particularmente o padrão em U da matéria cinzenta e branca, influencia significativamente como processamos emoções e tomamos decisões. A matéria cinzenta, envolvida no controle muscular, percepção sensorial e tomada de decisão, aumenta durante a infância e adolescência, atinge o pico na idade adulta jovem e depois diminui gradualmente. A matéria branca, que facilita a comunicação entre diferentes regiões do cérebro, geralmente aumenta até a meia-idade antes de seguir uma tendência de declínio semelhante.
Essa trajetória de desenvolvimento impacta a funcionalidade da amígdala e do hipocampo. À medida que o cérebro amadurece, o córtex pré-frontal, responsável por funções executivas como tomada de decisões e controle de impulsos, se integra melhor com a amígdala. Essa integração ajuda a modular as respostas emocionais, reduzindo o domínio da amígdala sobre nossos pensamentos e permitindo uma tomada de decisões mais racional.
A dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa, também influencia como focamos e nos fixamos em certos pensamentos. Em um cérebro maduro, a dopamina ajuda a equilibrar o sistema de recompensa, prevenindo o tipo de foco obsessivo em problemas ou inimigos que pode ser tão destrutivo. No entanto, quando esse sistema está desequilibrado — muitas vezes devido ao desenvolvimento cerebral imaturo ou comprometido — a dopamina pode reforçar padrões negativos de pensamento, dificultando o desvio de foco das ameaças para ações construtivas.
O pragmatismo de Maquiavel, quando visto através da lente da neurociência moderna, revela uma compreensão profunda da natureza humana e da importância de controlar o foco e as reações. A maturidade, tanto no desenvolvimento individual quanto na liderança, envolve o domínio dessas funções cerebrais para manter o controle sobre a própria mente, evitando armadilhas de fixação e reações emocionais exageradas. Compreendendo os mecanismos subjacentes — como a interação entre amígdala, hipocampo e neurotransmissores como a dopamina — podemos apreciar a profundidade dos insights de Maquiavel e aplicá-los de forma eficaz em contextos pessoais e profissionais.
Em contraste, uma abordagem pragmática nos negócios foca no que pode ser feito no presente, aproveitando os recursos disponíveis e respondendo aos desafios com flexibilidade e adaptabilidade. Essa mentalidade não nega a importância dos objetivos, mas reconhece que o caminho até eles devem estar ancorado na realidade, e não na ilusão de controle. Ao centrar-se no processo e nas etapas acionáveis, cultivamos resiliência e a capacidade de navegar pela incerteza, ao invés de sermos paralisados por ela.