Quem nunca se deparou seja em um livro de autoajuda ou da boca de um Coach a frase "você precisa saber onde está e para onde quer ir" em sua forma mais clássica, onde esta é frequentemente apresentada como um caminho direto para o sucesso, um mantra que promete clareza e direção. No entanto, essa simplicidade é enganosa e pode ser um conforto para aqueles que evitam confrontar verdades mais profundas e desconfortáveis sobre suas próprias falhas ou insuficiências.
A literatura de autoajuda barata prospera com esse tipo de afirmação porque oferece uma solução rápida, uma sensação superficial de controle sobre o próprio destino, sem exigir o rigoroso autoexame ou o confronto existencial que o verdadeiro crescimento exige, reconhecendo aquilo que elas mais temem - identificar onde elas podem falhar sem poder colocar a culpa em ninguém mais do que em si mesmo. É aqui que as ideias de Nietzsche e Kierkegaard fornecem uma crítica mais profunda.
A filosofia de Nietzsche nos instiga a enfrentar de frente as duras realidades da existência. Para ele, a vida é uma luta constante, um "mar de problemas", e a única maneira de navegar por ele é armar-se com uma forte vontade, o *Wille zur Macht* (vontade de potência). Isso não se trata de estabelecer metas simplistas ou traçar um caminho claro para o sucesso. Pelo contrário, trata-se de cultivar força interior, resiliência, e a capacidade de transformar a adversidade em algo significativo. Nietzsche argumentaria que o conforto encontrado em clichês como "saber onde você está e para onde quer ir" é uma forma de escapismo, uma maneira de evitar o caos e a incerteza que são inerentes à vida.
Ao focar nessas metas superficiais, as pessoas evitam enfrentar os verdadeiros desafios que estão por trás—os desafios que forjam a verdadeira força e caráter. A abordagem de Nietzsche não é evitar a tempestade, mas manter-se firme dentro dela, abraçar o caos e emergir mais forte.
Kierkegaard oferece uma perspectiva diferente, mas complementar. Para ele, a existência verdadeiramente começa quando alguém confronta a realidade do fracasso, “Toda fonte de conhecimento verdadeiro começa por um entristecimento consigo mesmo". Ele argumenta que ideais éticos e aspirações frequentemente desmoronam diante das complexidades de qualquer existência que aprofunde além do imediato. A percepção de que esses ideais são inatingíveis—que os esforços para alcançar um estado de perfeição moral ou existencial estão fadados ao fracasso—não é motivo para desespero, mas sim o ponto de partida para uma existência autêntica.
A noção de "desespero" em Kierkegaard é central aqui. Não é apenas uma emoção, mas um estado de ser que surge quando alguém reconhece a impossibilidade de viver à altura de um eu idealizado. Esse desespero força a pessoa a confrontar seu verdadeiro eu, despido de ilusões, mas diante de uma recusa à resignação essa consciência alimenta seu propósito. O conselho barato de "saber onde você está e para onde quer ir" ignorar esse confronto essencial, oferecendo em vez disso uma sensação reconfortante, mas no final das contas, vazia, de direção.
O Conforto dos Clichês: Uma Barreira ao Crescimento Autêntico
Qualquer filosofia profunda expõe a superficialidade dos clichês de autoajuda. Esses ditados vendem bem porque oferecem uma saída do desconforto—uma promessa de que, se você apenas seguir uma receita simples, poderá alcançar o sucesso. Mas esse conforto tem um custo: o verdadeiro crescimento. O chamado de Nietzsche para abraçar a luta e a insistência de Kierkegaard na necessidade de confrontar o fracasso apontam para uma verdade mais profunda: a existência autêntica exige mais do que simplesmente estabelecer metas e saber para onde você está indo. Ela exige disposição para enfrentar o desconfortável, o incerto, e o irresolvível.
Em essência, a popularidade desses clichês reflete um medo generalizado do fracasso e um desejo de evitar os verdadeiros desafios da existência. Eles oferecem uma maneira de sentir controle sem realmente engajar-se com as realidades mais profundas e difíceis que a verdadeira transcendência nos encorajam a enfrentar. O verdadeiro crescimento, não vem de seguir um caminho claro, mas de navegar pela jornada caótica e muitas vezes desorientadora da vida com coragem e autenticidade.